(Vou cortar logo o papo de por que demorei tanto a postar, do por que estou atrasada com os e-mails, do por que quase não tenho respondido comentários e do por que não tem fotos das coisinhas que tenho feito, senão o post não sai, mas se alguém quiser saber, resumo numa palavra: tempo :D)
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A Kelly deixou um comentário aqui que me lembrou uma coisa que estou para escrever há tempos.
Desde que comecei com o blog, não é raro encontrar o desabafo de alguém dizendo que não consegue fazer isso ou aquilo, que não entende a receita, que a receita está errada, que a blusa não saiu do jeito que queria, me pedem receita de trabalhos complicadíssimos.
E sempre tenho vontade de perguntar: você tricota por quê?
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É promessa? O professor vai dar nota baixa se sair um ponto torto? A mãe vai deixar de castigo se as mangas não ficarem milimetricamente simétricas? Seu chefe vai baixar seu salário se você não conseguir fazer aquele gorro em fair isle com 59 cores? Não? Então por que toda essa ansiedade, crianças?
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Vamos aos fatos.
- Tricotar à mão, mesmo usando aquela lá baratinha do balaio de ofertas, sai mais caro do que comprar pronto. Se você for considerar a mão-de-obra então, pode apostar que sai caríssimo.
- Em 99,87% dos casos, seu trabalho só vai ser devidamente considerado e aprecidado por quem sabe fazer também. Então, não espere todo o reconhecimento que merece por quem recebeu aquele pulôver que você levou 43 horas tricotando.
- Tricotar para ganhar dinheiro é complicado. Muito raramente se recebe um valor justo. E vai se enfrentar o mesmo problema dos dois itens anteriores.
Ou seja, se você não tricota por prazer, se virou uma fonte de contrariedade, ó, desculpe a sinceridade, mas acho que tem outras atividades muito mais apropriadas - das quais não me lembro nenhuma agora. Sei lá, luta greco-romana, contar quantos fuscas vermelhos passam pelo seu caminho, sudoku, ler James Joyce em ucraniano...
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Como a Kelly ainda me pergunta "como fazer tricô de verdade". Eu nem se eu faço "tricô de verdade", mas se minhas dicas puderem ser de alguma serventia, lá vai.
- Primeiro, encare como diversão, como hobby, como alguma coisa para fazer em frente à tevê, na fila do banco ou nos nossos aeroportos (seguindo o conselho da nossa tão ilustrada e viajada Ministra, é uma das maneiras de "relaxar e gozar").
- Segundo, não tenha medo de errar - mas erre em coisas pequenas. Eu mesma, quando estava aprendendo, apesar dos meus 17 anos, só fazia roupas para bonecas (achei algumas outro dia, qualquer hora posto aqui) ou experimentava pontos em cobertores para elas (as amostras servem para isso também - as meninas adoram!).
- Terceiro, tente aprender a ler receitas e entender gráficos e esquemas. É quase como aprender uma nova língua (o tricotês), mas vai por mim que vale a pena. Pegando o jeito, ler tricotês em inglês, francês, italiano. Eu ando quase decifrando uma receita em tricotês em dinamarquês.
- Quarto, tenha coragem. Receitas não mordem! Até hoje, tem muita coisa que não entendo numa primeira lida, mas tenho fé, vou em frente e quase sempre dá certo - se bem que não ponho a minha mão no fogo no caso dessas revistas brasileiras de hoje em dia; recomendo apenas para tricoteiras experientes e de coração forte.
- Quinto, lembre-se de que, se não der certo, em 99,54% dos casos você pode desmanchar e começar tudo de novo. Bem melhor do que tentar fazer uma receita de lagosta com caviar, arroz selvagem e trufas negras - e falhar.
- Sexto, com seus erros ou seus acertos, divirta-se! Porque não importa o destino; o barato é a viagem...
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